Um ex-conselheiro da OceanGate – empresa responsável pelo submarino Titan, que implodiu no mês passado, matando os cinco passageiros a bordo – disse que a embarcação havia soltado os pesos do lastro responsável por mantê-la no fundo do oceano para tentar voltar à superfície, indicando que o piloto sabia que havia algo errado.
Rob McCallum, consultor com experiência em expedições, declarou para The New Yorker: “O relatório que recebi imediatamente após o evento – muito antes do tempo de oxigênio ter acabado – foi que o submarino estava se aproximando de 3.500 metros.”
“Ele derrubou os pesos”, disse. “E então perdeu as comunicações e o rastreamento, e uma implosão foi ouvida.”
McCallum é cofundador da empresa de expedições EYOS Expedition, e já conduziu mergulhos até os destroços do Titanic e em outros lugares profundos do oceano. Quando o CEO da OceanGate, Stockton Rush – um dos mortos na tragédia do submersível Titan – decidiu construir um submersível para chegar até o naufrágio mais famoso do mundo, ele contatou McCallum para ajudá-lo.
Quando ele chegou até a oficina de trabalho da OceanGate, não gostou do que viu. “Todo mundo estava bebendo Kool-Aid (uma marca de suco americana) e falando sobre como eles eram legais com um PlayStation da Sony”, disse McCallum
“eu perguntei na época: ‘A Sony sabe que [o controle do PlayStation] foi usado para esta finalidade? Porque, você sabe, não foi projetado para isso”, falou. “Você tem o controle de mão se comunicando com uma unidade Wi-Fi, que está se comunicando com uma caixa preta, que está se comunicando com os propulsores do submarino. Havia vários pontos passíveis de falha.
Ele ainda acrescentou: “Cada submarino do mundo tem controles com fio por uma razão – se o sinal cair, você não está ferrado.”
Quando McCallum ficou sabendo que Rush não tinha a intenção de certificar o submersível através da aprovação de nenhuma agência reguladora, ele decidiu não se envolver mais no projeto. “No minuto em que descobri que ele não iria certificar o veículo, foi quando eu disse: ‘Sinto muito, mas não posso me envolver’.”
As pessoas me ligavam e diziam: ‘Sempre quisemos ir ao Titanic. O que você acha?’ E eu dizia a eles: ‘Nunca entre em um submersível sem certificação. Eu não faria isso, e você também não deveria’”, acrescentou.
McCallum disse que confiava no ex-funcionário e piloto de submersível da OceanGate David Lochridge, e quando ele foi demitido após levantar preocupações sobre a segurança do submersível Titan, encorajou que ele tornasse suas críticas públicas.
Segundo McCallum, Lochridge respondeu uma troca de e-mails entre eles, após sua demissão, dizendo: “Eu me considero muito corajoso quando se trata de fazer coisas perigosas, mas aquele submarino é um acidente prestes a acontecer.” Ele também disse: “Não há nenhuma maneira na terra que você poderia ter me pago para mergulhar naquela coisa.”
Ao falar sobre Rush, Lochridge teria acrescentado no e-mail: “Não quero ser visto como um fofoqueiro, mas estou tão preocupado que ele se mate e mate outros em busca de aumentar seu ego.”
McCallum disse que tentou argumentar sobre as preocupações diretamente com Stockton Rush, e enviou um e-mail para o CEO da OceanGate que dizia: “Você está querendo usar um protótipo de tecnologia não certificada em um local muito hostil.” E acrescentou: “Por mais que eu aprecie o empreendedorismo e a inovação, você está potencialmente colocando todo o setor em risco.”
Rush teria ficado ofendido com o e-mail de McCallum, e respondeu dizendo que estava “cansado de participantes do setor que tentam usar o argumento da segurança para impedir que a inovação e pessoas novas entrem no pequeno mercado já existente”.
Rob McCallum estava entre os mais de 30 signatários da carta enviada por especialistas para a OceanGate em 2013, expressando uma “preocupação unânime” sobre a expedição ao Titanic e a decisão de não certificar o submersível através de nenhuma empresa reguladora.
Fonte: CNN